O luxo da gastronomia
Vatel, um banquete na Veneza brasileira, fez uma releitura da sofisticação culinária da realeza francesa
Quem esteve presente ao evento gastronômico Vatel, um banquete na Veneza brasileira pôde assistir a um espetáculo visual e gustativo sem precedentes na gastronomia pernambucana, realizado por Douglas Van Der Ley, na Oficina Brennand, em parceria com o cenógrafo baiano Almir Pereira, com a colaboração de outros 14 chefs.
Não à toa, a antiga fábrica de cerâmica da Várzea, que abriga seres e animais mitológicos, foi cenário ideal para abrigar decoração de arranjos monumentais, de flores e castiçais. Sem falar no receptivo de bobos da corte e cortesãs, que reverenciavam os convidados mascarados - gourmets e gourmands ansiosos para acompanhar em seis atos a noite, releitura contemporânea do luxo da realeza.
Após o coquetel de abertura, o público se acomodou no Jardim das Esculturas, onde o jantar Françoise Vatel seria servido ao som da orquestra de Alexandre Lemos. Antes, porém, a cantora lírica Anna Gelinskas surpreendeu com a música Material girl, de Madonna.
Fogos de artifício anunciaram o jantar, servido numa bela mesa de 15 metros ornamentada com leguminosas, frutas e flores, por André Saburó. No grande menu, codornas e versão recheadas por Jeff Colas e Hugo Prouvot, que também fez um cordeiro à moda; guarnições de marreco, faizão e pato, por Joca Pontes; massas e verduras especiais, por André Falcão. Para o mar, caranguejos do Alasca,cascata de camarão, ceviches, peixes laminados, sushis variados preparados por Yoshi Matsumoto e Biba Fernandes.
Além de dois espaços com instalações de açúcar preparados por Douglas, que iam do clássico ao moderno, carros alegóricos trouxeram mais uma centena deles. Após o degut da sobremesa, um solo de dança clássica anunciou o último ato, momento dançante da festa. Tamanha a magnitude mostra que Douglas e sua turma de chefes, além de criativos e habilidosos, conhecem a fundo os prazeres da mesa e tudo mais que envolve esta magnífica e cotidiana atividade social - tão intrínseca à existência humana. [Mariana Lôbo]
O espetáculo por trás da máscara
Qualquer coisa que se diga sobre o Vatel – Um Banquete na Veneza Brasileira deveria frisar a ousadia – e a fantasia – do chef Douglas Van Der Ley. Sim, porque se espelhar no cozinheiro da corte francesa (no cinema, interpretadopor Gérard Depardieu) e idealizar um banquete, contagiando mais 14 chefs, umaprodução vinda de outro estado e 500 pessoas dispostas a pagar R[cifrao] 400 é uma prova de que sua loucura criativa não é das pequenas. Todas aquelas pessoas que estavam ali confiam no esmero que Douglas sempre imprimiu em seu projeto. E a noite dessa quinta-feira não fugiu à regra.
Talvez os convidados da corte não tenham se esbaldado em comidas – não por falta, mas por contenção de impulso mesmo -, mas participaram de uma noite de beleza e requinte, como em uma viagem pelo tempo. No coquetel de recepção, figuras que pareciam cobertas de gesso recepcionavam ao lado de um quinteto de cordas, tudo ainda muito tímido, das pessoas à música. Quando o bobo da corte apresentou o Fantástico Mundo de Douglas Van Der Ley e permitiu a passagem às ala do banquete, o cenário de flores e castiçais era encantador.
Comensais de capa e capuz, que lembravam as figuras sombrias de De olhos bem fechados, orientavam a disposição das mesas e os mascarados tomavam seus lugares. A orquestra tocava com ajuda de som, detalhe que Luis XIV não aprovaria.
Comensais de capa e capuz, que lembravam as figuras sombrias de De olhos bem fechados, orientavam a disposição das mesas e os mascarados tomavam seus lugares. A orquestra tocava com ajuda de som, detalhe que Luis XIV não aprovaria.
Mas então o espetáculo começou, os tapumes foram abaixo e foi revelada a mesa das delícias. A cantora Anna Gelinskas fez uma ótima entrada, caracterizada de Maria Antonietta pelas mãos de Fernando Costa e cantando Material girl, de Madonna. O desfile dos chefs que participaram da preparação também foi emocionante. A noite então seguiu até acabar em marcha de carnaval. E no final, diferente do filme, ninguém cometeu suicídio. [Nina Wicks de Almeida]