DIA 23 DE ABRIL - SÃO JORGE E OGUM
Ogum é venerado por suas características guerreiras, representando força, coragem e proteção. São Jorge, por sua vez, é reverenciado como um mártir cristão que lutou contra a perseguição religiosa. Ambos são associados à proteção contra inimigos e à superação de desafios.
A celebração do Dia de São Jorge com feijoadas extrapola as fronteiras da religião católica, já que a origem desse festejo vem, na realidade, das religiões de matriz africana, em saudação ao Orixá Ogun. Se tornou um marco da cultura brasileira, sendo até feriado em parte do país, como no Rio de Janeiro. Para entender por que a data é comemorado com feijoada, é preciso conhecer as religiões afro-brasileiras. O feijão preto é conhecido como “comida de orixá'' e uma das oferendas que podem ser servidas a uma das mais populares entidades: Ogum, com sincretismo ligado a São Jorge.
A feijoada de Ogum é uma tradição das religiões de matriz africana como Candomblé e Umbanda. O principal motivo para esse costume é pela relação entre o feijão e o orixá Ogum. Ogum representa proteção e coragem, mas também o trabalho árduo e a agricultura. Assim como a imagem de São Jorge, um santo guerreiro, protetor dos agricultores, soldados e artesãos.
"Para falar da feijoada de Ògún temos que voltar às primeiras décadas do século passado, época do Babalòrìsà Procópio Xavier de Souza, o grande Pai Procópio do Ògúnjá (Ògún Jobi), que durante muito tempo lutou para defender seu Terreiro no Vale do Bonokô (que na verdade seria o Vale do Igunnuko) e para defender a nossa religião. O povo antigo – as “mocotonas” como chamamos aqui em Salvador, falavam que Pai Procópio foi um homem muito perseguido, principalmente pelo policial Pedrito, um homem intolerante que costumava invadir os Terreiros, furar os atabaques e quebrar peças sagradas (nem parece que estamos falando coisas do século passado, infelizmente ainda hoje vivenciamos esses problemas). Mas Pai Procópio era um homem muito enérgico, do tipo valentão que não levava desaforo para casa – um característico filho de Ògún.
Certa vez no Terreiro do Ògúnjá, em época da festa do dono da casa, um homem maltrapilho e com fome chegou pedindo feijão para comer. Os Ogan de Pai Procópio tentaram mandar o homem embora, mas não tiveram êxito e logo Pai Procópio chegou para ver o que estava acontecendo em sua casa. Ao ver o homem naquela condição e também alterado, Pai Procópio não teria pensado duas vezes, pegando o sujeito e botando o mesmo para fora de sua casa, negando comida no dia da festa do seu Òrìsà – Ògún.
Na noite do Candomblé Ògún teria chegado muito nervoso e nada lhe acalmava, deixando todos apreensivos. Ògún então disse que Pai Procópio havia cometido um grande erro e que ele estava descontente com aquilo. Disse que Procópio errou duas vezes, a primeira em negar comida para uma pessoa dentro do Asè e a segunda em botar uma pessoa para fora, sem sequer saber quem era.
A história conta que Ògún chegou a dizer que aquele homem poderia ser ele próprio (Ògún), que poderia ter resolvido testar Seu Procópio, mas que nunca ninguém saberia. Todos os filhos pediam calma e perdão, mas Ògún sentenciou Pai Procópio, dizendo que ele jamais poderia negar comida a ninguém e que, a partir de então, todos os anos em sua festa, ele deveria fazer uma grande feijoada e distribuir para as pessoas, principalmente para as necessitadas – para que ele jamais se esquecesse do que havia ocorrido.
Contam que nos dias das festas de Ògún, depois do acontecido, Pai Procópio mandava que buscassem pessoas com dificuldades para comer a feijoada de Ògún."(texto citado: Babalòrìsà do Terreiro de Òsùmàrè)"
Com o passar dos anos e com a notoriedade de Pai Procópio, muitas pessoa e também passaram a fazer a feijoada nas festas desse importante Òrìsà, sendo hoje algo que é realizado em muitos Terreiros de Candomblé – A Feijoada de Ògún de Pai Procópio!
O sincretismo, ou seja, a incorporação de crenças e símbolos entre religiões, foi uma estratégia usada pelos negros escravizados para que pudessem cultuar suas divindades e exercer a fé. É importante lembrar que durante a escravidão somente o catolicismo era permitido, por muito tempo as religiões de matriz africanas foram criminalizadas e até hoje são perseguidas.
Feijoada de feijão preto para Ogum não existe. O feijão de Ogum é mulatinho. A feijoada de São Jorge é feita com feijão preto porque é o que todo mundo gosta, mas não tem nada a ver com o Ogum. Feijoada de Ogum é no terreiro.
Receita da Feijoada
Antes de mais nada, o preparo da Feijoada de Ogum é o mesmo da feijoada tradicional que você já é acostumada a fazer, apenas com um adendo, o feijão é o mulatinho, carnes de porco, carnes defumadas, linguiça e outros ingredientes de sua escolha. Contudo, é importante realizar rezas dedicadas a Ogum durante o preparo, assim conectando-se e pedindo bênçãos ao Orixá. Por fim, a feijoada pode ter arroz e farinha de mandioca como acompanhamento. Além do próprio consumo, você ainda deve dividir com a família ou pessoas próximas.
Agora é partir para a cozinha e fazer essa feijoada maravilhosa, pedindo ao pai Ogum toda a proteção que merecemos.